- Renata Vasconcellos
Gravidez não é doença. Exercite-se!

A gestação é uma fase singular na vida de uma mulher. Durante esse período, ocorrem inúmeras transformações que vão desde alterações fisiológicas até psicológicas. O corpo muda de maneira drástica, dando lugar não apenas à geração de uma nova vida, mas também a um processo de adaptação e reconhecimento de sentimentos, sensações e alterações próprias desta dinâmica. Uma das maneiras de minimizar tantas alterações e gerar um bem estar físico e mental para a gestante é a prática de atividade física moderada e regular.
Em décadas passadas, as gestantes eram aconselhadas a reduzirem suas atividades e interromperem inclusive o trabalho ocupacional, especialmente durante os estágios finais da gestação. Isso porque acreditava-se que o exercício aumentaria o risco de trabalho de parto prematuro por meio de estimulação da atividade uterina.
No entanto, em meados da década de 90, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) reconheceu que a prática da atividade física regular no período gestacional deveria ser desenvolvida — desde que a gestante apresentasse condições apropriadas — pois atua no controle do ganho de peso durante e após a gestação, especialmente quando o suprimento nutricional está adequado.
BENEFÍCIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA DURANTE A GRAVIDEZ
Prevenção e redução de lombalgias, dores das mãos, nos pés e estresse cardiovascular;
Fortalecimento da musculatura pélvica;
Diminuição de edema;
Redução de partos prematuros e cesáreas;
Maior flexibilidade e tolerância à dor;
Controle do ganho de peso e elevação da autoestima da gestante;
Aumento do peso do feto;
Melhoria da condição nutricional;
Redução do estresse cardiovascular;
Frequências cardíacas mais baixas;
Maior volume sanguíneo em circulação;
Maior capacidade de oxigenação;
Menor pressão arterial;
Prevenção de trombose e varizes;
Redução do risco de diabetes gestacional;
Contribui para a elevação da autoestima;
Maior flexibilidade;
Aumento de estrogênio — que contribui para o relaxamento muscular, suavização das cartilagens e elevação do fluído sinovial, resultando no alargamento das articulações e facilitando a passagem do feto.
Ainda não existem recomendações padronizadas de atividade física durante a gestação. No entanto, frente à ausência de complicações obstétricas, é recomendado que a atividade física desenvolvida nesse período tenha por características exercícios de intensidade regular e moderada, com o programa voltado para o período gestacional em que se encontra a mulher, com as atividades centradas nas condições de saúde da gestante, na experiência em praticar exercícios físicos e na demonstração de interesse e necessidade da mesma.
Pesquisas recentes mostraram que gestantes sedentárias apresentam risco 4,5 vezes maior de nascimentos por cesárea do que as gestantes ativas fisicamente, e comprovaram que a atividade física durante a gestação diminui as dores do parto e contribui para que as gestantes fisicamente ativas tolerem melhor o trabalho de parto — principalmente os mais prolongados.
Vale ressaltar que o acompanhamento de profissionais especializados durante a prática de exercícios na gravidez é essencial para monitorar a intensidade do exercício de acordo com os sintomas que a gestante apresentar.
A associação do exercício físico durante a gestação e o aborto espontâneo foi explicada como consequência do tipo de exercício praticado — que apresentava características de intensidade excessiva.
EXERCÍCIOS NÃO RECOMENDADOS PARA GESTANTES
Atividades competitivas;
Artes marciais;
Levantamento de peso;
Exercícios com movimentos repentinos ou de saltos, que podem levar a lesão articular;
Flexão ou extensão profunda deve ser evitada pois os tecidos conjuntivos já apresentam frouxidão;
Exercícios exaustivos e/ou que necessitam de equilíbrio principalmente no terceiro trimestre;
Qualquer tipo de jogo com bolas que possam causar trauma abdominal;
Pratica de mergulho (condições hiperbáricas levam a risco de embolia fetal quando ocorre a descompressão);
Qualquer tipo de ginástica aeróbica, corrida ou atividades em elevada altitude são contraindicadas ou, excepcionalmente aceitas com limitações, dependendo das condições físicas da gestante;
Exercícios na posição supino após o terceiro trimestre podem resultar em obstrução do retorno venoso (síndrome da hipotensão supina).
É preciso ter atenção! Alguns sinais ou sintomas representam sinal de perigo de complicações na gestação durante a prática de atividade física e indicam que o exercício deve ser imediatamente interrompido por constituírem grande risco para a saúde tanto da gestante quanto do feto. São eles:
Perda de líquido aminiótico;
Dor no peito;
Sangramento vaginal;
Enxaqueca;
Dispneia;
Edema;
Dor nas costas;
Náuseas;
Dor abdominal;
Contrações uterinas;
Fraquezas musculares;
Tontura;
Redução dos movimentos do feto.
O que concluímos é que, quando autorizada pelos médicos, a prática de atividade física regular, moderada, controlada e orientada, produz efeitos benéficos sobre a saúde da gestante e do feto.
Lembre-se: gravidez não é doença! Consulte seu médico, pratique exercícios e curta essa fase da melhor maneira possível.